Uma verdadeira evangelização querigmática não se resume a falar de Jesus. Vai muito além disso. Se trata de proporcionar uma transformação na vida do fiel por meio de um encontro com a pessoa de Cristo.
Na tradição cristã, a palavra “querigma” é sinônimo do primeiro anúncio das verdades da fé. Segundo as Escrituras, Jesus de Nazaré foi morto, ressuscitou, subiu aos céus e está sentado à direita de Deus Pai. Essa afirmação é o centro da nossa fé cristã.
Portanto, o querigma cristão consiste na apresentação de Jesus com seus três grandes títulos: Messias, Senhor e Salvador.
“Esta fé, que recebemos da Igreja, guardamo-la nós cuidadosamente, porque sem cessar, sob a ação do Espírito de Deus, tal como um depósito de grande valor encerrado num vaso excelente, ela rejuvenesce e faz rejuvenescer o próprio vaso que a contém” (CIC 175).
Quem são os destinatários do Querigma?
Logo após a morte de Jesus, os discípulos saíram pelas cidades e povoados anunciando o querigma do Reino de Deus.
São Paulo apóstolo por diversas vezes foi chamado de missionário querigmático. Isso porque ele soube propor com maestria as bases do Evangelho e anunciou o nome de Jesus para muitos povos e muitas culturas diferentes.
O apóstolo Paulo sabia que não fazia sentido uma evangelização que não tivesse como objetivo aqueles que ainda não conheceram a Jesus.
Nos tempos atuais, o Papa Francisco chama nossa atenção sobre sermos uma “Igreja em saída”, que alcança as “periferias existenciais”.
Ou seja, o Papa nos propôs uma igreja que vai em busca daqueles que ainda não experimentaram o amor de Deus.
Raniero Cantalamessa, frade capuchinho que é o pregador da Casa Pontifícia desde 1980, afirmou numa entrevista ao site Vatican News que a Igreja não precisa de um anúncio estritamente moralista. Na sua opinião, mais do que isso, “é necessária uma pregação querigmática que anuncie – e quase faça respirar – o senhorio de Cristo”.
Principais erros no anúncio querigmático
Uma evangelização querigmática jamais deve desconsiderar as diferentes condições existenciais daqueles que recebem o anúncio.
A palavra “acolhida”, talvez, possa ser eleita como a primeira a se pensar quando se chega até aqueles que nunca antes se encontraram com Cristo.
No entanto, durante esse processo, muitas vezes acabamos por cometer erros que podem comprometer seriamente a evangelização. Veja quais são, para que você possa evitá-los.
Denúncia
Quantas vezes nos comportamos como aqueles homens – escribas e fariseus – que trouxeram a Jesus uma mulher que havia sido pega em adultério, querendo apedrejá-la?
Portanto, antes de querermos denunciar os erros de alguém, é a nós que Jesus pergunta hoje: “Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra” (Jo 8,7).
Preconceito
São muitos os episódios nos quais Jesus se depara com um pecador ou pecadora que manifesta arrependimento. Como Jesus age diante deles? Com misericórdia!
Foi assim com a samaritana, foi assim com Zaqueu e com muitos outros personagens bíblicos.
Com suas atitudes, Jesus demonstra que a palavra “preconceito” não deve existir no vocabulário cristão.
Mentalidade Engessada
Neste mundo Jesus demonstrou estar muito adiante do seu tempo. Diferente dos que viviam na sua época, que possuíam uma mentalidade engessada, Ele quebrou paradigmas.
Suas ideias e costumes contrastaram muito com o comportamento daquele período histórico.
Muitos de nós atualmente precisamos nos libertar de uma mentalidade engessada, que oprime, que descarta ou que repudia pessoas. Todos somos imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,26-28).
Falta de empatia
Não ter empatia significa não ter compaixão, não ter misericórdia. O que é totalmente oposto àquilo que o próprio Cristo nos pediu: “Sede misericordiosos como vosso pai é misericordioso” (Lc 6,26).
No primeiro Angelus do Papa Francisco, na Praça de São Pedro, ele disse:
“Comove-nos a atitude de Jesus: não escutamos palavras de desprezo, não escutamos palavras de condenação, apenas palavras de amor, de misericórdia, que convidam à conversão” (17 de março de 2013).
São palavras imbuídas de tal essência que devem permear nosso anúncio evangelizador.
A espiritualidade do querigma
Se tem um texto bíblico que pode servir como o ícone da espiritualidade do querigma, se assim podemos dizer, é o texto da parábola do Pai das Misericórdias (Lc 15,11-32).
Nesta parábola Jesus revela como Deus é compassivo e misericordioso.
Quando a narrou, Jesus se dirigia aos fariseus e escribas, que frequentemente se escandalizavam com Suas atitudes. Jesus pretendia despertar em seus corações a conversão, queria ensinar-lhes a serem misericordiosos como Deus é misericordioso.
Ou seja, por meio dessa parábola Jesus ensinava a compaixão àqueles que não costumavam agir com compaixão. Hoje somos nós que muitas vezes nos comportamos com os fariseus e escribas que se acham mais dignos que os publicanos.
Trazendo essa parábola para a nossa realidade, o irmão mais novo é a representatividade dos marginalizados e excluídos da nossa sociedade. Já o filho mais velho é todo cristão que se julga mais santo e perfeito, e que, por isso, apenas ele é digno do amor de Deus. Agem como pessoas egocêntricas, que gostam de apontar os defeitos dos outros sem perceber os seus. Uma postura totalmente avessa a todo cristão, principalmente àqueles a quem o Senhor chamou para anunciar o seu Reino.
Já na figura do Pai nos deparamos com a imagem de Deus que, movido por compaixão acolhe o filho. O Pai age essencialmente por amor e misericórdia, sem se importar se, de fato, havia arrependimento no filho, não exigiu dele uma confissão dos seus erros.
Por isso, a misericórdia de Deus é o modelo, por excelência, de uma evangelização querigmática. Quando, como Igreja, vamos ao encontro dos que estão afastados de Deus, nossa postura deve ser a mesma do Pai da Parábola da Misericórdia.
Acolher, demonstrar amor e compaixão. Ter empatia! Assim deve acontecer o primeiro anúncio. A conversão será, depois, fruto desse primeiro encontro no qual a pessoa deve se deparar com um Deus que é Pai misericordioso.
“A primeira obra da graça do Espírito Santo é a conversão, que opera a justificação (…) Sob a moção da graça, o homem volta-se para Deus e desvia-se do pecado, acolhendo assim o perdão e a justiça do Alto” (Catecismo, 1989).
O que é necessário para uma evangelização querigmática eficiente?
Após o primeiro encontro da pessoa no qual ela experimenta o amor do Senhor, convém que promovamos o seu crescimento na fé. Por isso, o Papa Francisco assim se expressou ao falar sobre o aprofundamento do querigma:
“A evangelização procura também o crescimento, o que implica tomar muito a sério em cada pessoa o projeto que Deus tem para ela. Cada ser humano precisa sempre mais de Cristo, e a evangelização não deveria deixar que alguém se contente com pouco, mas possa dizer com plena verdade: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gal 2, 20)” (Evangelli Gaudium, 160)
Contudo, o Papa explica que este apelo ao crescimento não se restringe a uma formação doutrinal. Ele explica: “Trata-se de cumprir aquilo que o Senhor nos indicou como resposta ao seu amor, sobressaindo, junto com todas as virtudes, aquele mandamento novo que é o primeiro, o maior, o que melhor nos identifica como discípulos: «que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 15,12)” (Evangelli Gaudium, 161).
O Apóstolo Paulo apresentava às comunidades do seu tempo a vida cristã como um caminho de crescimento no amor: “O Senhor vos faça crescer e superabundar de caridade uns para com os outros e para com todos” (1Ts 3, 12).
Também o Apóstolo Tiago exortava: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Tg 2, 8).
Querigma e a Pastoral do Dízimo: o que eles têm em comum
Assim como o anúncio querigmático possuiu uma espiritualidade que promove um encontro no qual a pessoa experimenta o amor do Senhor, algo muito semelhante deve acontecer com a experiência do dízimo!
Começando pela Pastoral do Dízimo, cada membro deve compreender corretamente o que é o dízimo, já que muitos possuem uma visão limitada sobre esse assunto.
Muitos, dentro da própria pastoral, concebem o dízimo simplesmente como uma obrigação financeira.
Se a sua compreensão se resume a isso, como saberão evangelizar as pessoas para que compreendam que, na verdade, o dízimo brota de um coração generoso que experimentou o amor e a gratidão de Deus em sua vida?
É necessário que as pessoas compreendam que o dízimo é uma consequência de uma via expressa de amor: do amor de Deus para com a pessoa, da pessoa para com Deus e consequentemente para com a sua Igreja e os irmãos.
Quais os resultados esperados
De uma evangelização verdadeiramente querigmática, espera-se uma igreja cheia!
Conseguir trazer novas ovelhas para o rebanho do Senhor é fruto de um trabalho árduo, feito com amor. Um trabalho que não tem por base outro atributo de Deus a não ser Seu amor e misericórdia.
E uma igreja cheia resulta em ter cada vez mais na paróquia potenciais evangelizadores. Esses poderão ser capacitados, preparados, para também atuarem em busca daqueles que se afastaram de Deus, a partir do mesmo querigma.
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Gisa Prado
Jornalista de formação, com longa experiência na produção de conteúdos para meios de comunicação católico. Atualmente compõem a equipe de Redação na Dominus Evangelização e Marketing. Seu coração está na evangelização!
1 Comments
Gostei muito desta explanação sobre kerigma. Leva ao anúncio, mas não sem vivência.